Muquenapolenta's Blog

16/04/2010

Histórias de Professor (2)

Isso aconteceu com uma professora que me permito o direito de não divulgar seu nome, assim como não usarei os nomes de qualquer envolvido.

A professora dava aula numa escola afastada do centro e esquecida pelo mundo. As crianças eram muito carentes, em tudo. Muitos não tinham o que comer e se alimentavam na escola. Não gostavam de feriados, pois não comeriam naquele dia. Muitos tomavam banho na escola. E adoravam, pois era a oportunidade de se sentirem melhor. Eram bem tratados lá. Aliás, laços de afetividade só conheciam na escola. Claro que havia conflito, pois alguns eram verdadeiros reflexos do que viam em casa. Mas acabavam por se deixarem levar pelo amor que recebiam. Todos do colégio trabalhavam por essa missão: torná-los um pouco dignos.

A professora teve também essa missão. E recebeu em sua classe a nata. Havia três irmãs que estudavam nessa classe. Carentes, como a maioria. Sofridas e rotuladas pela sociedade. Morava com a mãe, alcoólatra. Jovem, mas judiada pelo que plantou. Não tinham pai, mas um padrasto. Ganhava algum dinheiro, mas compartilhava com sua outra família em alguma cidade do Nordeste brasileiro. Na casa, nada de cama, nada de televisão, comida, banheiro, água limpa, energia elétrica. Possuíam algumas roupas de doações. Comiam o resto da feira. Conviviam com as brigas entre o casal, com a violência debaixo de seus olhos. Não brincavam, pois tinham os deveres domésticos. Não amavam, pois não eram amadas. Na escola foi oportunizado o conhecimento do carinho. Queriam, da maneira que podiam, retribuir o amor de sua professora.

Todos os alunos tinham lição de casa, inclusive elas. Evidente que se não levassem a tarefa no dia seguinte a professora não cobraria. O que fazer? Tinham argumentos de sobra para não cumprirem com mais essa obrigação. A desculpa, que era verdade, já estava pronta. Contudo, as meninas preferiam entregar tudo feito. Sentavam-se no chão da sala, e não preciso elucidar em que condições, acender um lampião que havia na casa e retribuírem o amor de sua professora. Faziam por prazer. Sabiam que a professora ficaria feliz. E sobretudo, sabiam que estavam sendo dignas, mostrando serem capazes de superar as adversidades que a vida impôs. Aprendiam, com uma só atividade, a lição da escola e a lição da vida.

Costumamos mandar tarefas para os alunos e eles não realizam. Desculpas são diversas: meu tio morreu, minha mãe não sabe, viajei, passeei com meus pais, veio visita em casa, meu primo pequeno rasgou a folha, não deu, e o famigerado esqueci… Nunca ouvi desculpas como não comi hoje, não tomei banho, meus pais brigaram muito, não tinha luz em casa…

O que falta é compromisso. No caso das três irmãs, a família não era capaz de cobrar. Foi a professora, referência de mãe para elas, que o fez. Muitos alunos não precisam ter seu professor como referência de pai. Contam com pais em condições de exercerem suas funções. Contam com uma vida digna. Mas esses pais não cobram e como seus pais são os exemplos, não assumem suas responsabilidades também. Os próprios pais acabam comparecendo à escola para darem a desculpa pelo filho…

Desculpem pais, mas depois do exemplo dessas três irmãs, não aceito nenhuma desculpa!

14/04/2010

Histórias de professor (1)

Sou professor desde 1998. De lá pra cá já cheguei a pensar em abandonar, já tive altos e baixos, já fui criticado e já fui elogiado.

Esse ano eu trabalho com um quarto ano, antiga terceira série – que antes era primário. Nesse tempo todo, observei o ambiente de trabalho, os colegas de profissão, estudei, analisei as mudanças pelas quais passamos, enfim, tentei entender as questões pertinentes à educação.

Sei que ganhamos pouco, não somos valorizados, somos criticados, mas já sabia de tudo isso quando entrei na área. Por isso não aceito alguns questionamentos. Não podemos nos negar a fazermos o melhor por força das adversidades. Pelo contrário, temos que buscar ser o melhor. Os questionamentos deixemos de fazer na sala dos professores ou nas reuniões pedagógicas e passemos a exercer nosso direito de maneira mais consistente, exigindo a solução de quem tem uma e possa nos fornecer.

Mas a função deve ser exercida. Sei que muitos desistiram. Insistiram por um tempo, mas foram derrotados pelo “sistema”. Sei também que muitos não sabem sequer por onde começar, devido à má formação, muito teórica, perfeita no papel, mas sem interagir com a prática.  Aliás, é a prática que nos proporciona sabedoria e força para nos manter. E a valorização virá com o tempo. Quando justamente esse aluno que hoje lhe dá problema, agradecer por você ajudá-lo a ser cidadão, e digno. Ou na pior das hipóteses, quando seu filho ou neto lhe agradecer por ajudar a tornar o mundo melhor para ele viver. Esse valor prático muitos esquecem.

Auxiliamos a formar a sociedade em que vivemos. E um dia os frutos virão. Por que a sociedade está se perdendo, eu não vou lecionar com dignidade?

Temos que fazer a nossa parte. Se a família não educa, deixaremos de fazê-lo? Ora, se o vizinho não varre a sua porta, deixarei de varrer a minha? Ao final do dia a rua estará suja, e ao final do mês, a cidade estará inabitável…

Ao meu colega de profissão: não se canse, não desista! Faça a sua parte! Acredite, eu já sofri na educação. E sofro ainda, em relação a preconceitos da sociedade, que só aceita mulheres dando aula. Nem por isso desisti. Critiquemos sim, vamos exigir da parte competente, contudo, sem esquecer do trabalho. Aliás, trabalho não, missão. Repito, se não por você, que seja pelo seu filho.

A Evolução da Educação

Essa eu recebi por email e me senti na obrigação de compartilhar. Sendo professor, fico triste com tal situação, mas sei que não é exagero…

A evolução da Educação.
Antigamente se ensinava e cobrava tabuada, caligrafia, redação,
datilografia…
Havia aulas de Educação Física, Moral e Cívica, Práticas Agrícolas,
Práticas Industriais e cantava-se o Hino Nacional, hasteando a
Bandeira Nacional antes de iniciar as aulas.

Leiam relato de uma Professora de Matemática:
Semana passada, comprei um produto que custou R$ 15,80. Dei à
balconista R$ 20,00 e peguei na minha bolsa 80 centavos, para evitar
receber ainda mais moedas. A balconista pegou o dinheiro e ficou
olhando para a máquina registradora, aparentemente sem saber o que
fazer.
Tentei explicar que ela tinha que me dar 5,00 reais de troco, mas ela
não se convenceu e chamou o gerente para ajudá-la. Ficou com lágrimas
nos olhos enquanto o gerente tentava explicar e ela aparentemente
continuava sem entender. Por que estou contando isso?
Porque me dei conta da evolução do ensino de matemática desde 1950,
que foi assim:

1. Ensino de matemática em 1950:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção
é igual a 4/5 do preço de venda. Qual é o lucro?

2. Ensino de matemática em 1970:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção
é igual a 4/5 do preço de venda ou R$ 80,00. Qual é o lucro?

3. Ensino de matemática em 1980:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção
é R$ 80,00. Qual é o lucro?

4. Ensino de matemática em 1990:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção
é R$ 80,00. Escolha a resposta certa, que indica o lucro:
a) ( )R$ 20,00
b) ( )R$ 40,00
c) ( )R$ 60,00
d) ( )R$ 80,00
e) ( )R$ 100,00

5. Ensino de matemática em 2000:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção
é R$ 80,00. O lucro é de R$ 20,00.
Está certo?
a) ( )SIM
b) ( ) NÃO

6. Ensino de matemática hoje:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção
é R$ 80,00. Se você souber ler coloque um X no R$ 20,00.
a) ( )R$ 20,00
b) ( )R$ 40,00
c) ( )R$ 60,00
d) ( )R$ 80,00
e) ( )R$ 100,00

7. Em breve vai ser assim:
Um lenhador vende um carro de lenha por R$ 100,00. O custo de produção
é R$ 80,00. Se você souber ler coloque um X no R$ 20,00. (Se você é
afro-descendente, especial, indígena ou de qualquer outra minoria
social não precisa responder)
a) ( )R$ 20,00
b) ( )R$ 40,00
c) ( )R$ 60,00
d) ( )R$ 80,00
e) ( )R$ 100,00
E se um moleque resolve pichar a sala de aula e a professora faz com
que ele pinte a sala novamente, os pais ficam enfurecidos, pois a
professora provocou traumas na criança.

Essa pergunta foi vencedora em um congresso sobre vida sustentável:

“Todo mundo ‘pensando’ em deixar um planeta melhor para nossos
filhos… Quando é que ‘pensarão’ em deixar filhos melhores para o
nosso planeta?”

Uma criança que aprende o respeito e a honra dentro de casa e recebe o
exemplo vindo de seus pais, torna-se um adulto comprometido em todos
os aspectos,  inclusive em respeitar o planeta onde vive…

Não há a preocupação de nenhum governo em mudar esse panorama. Mas sequer a sociedade tem “moral” para cobrar. Vivemos numa “sociedade da informação”, inserida na “era tecnológica”. Mas a informação que alguns de nossos jovens têm hoje diz respeito às cores das pulseiras e a tecnologia que eles utilizam é o twitter – nem sempre para o que vale.

Blog no WordPress.com.